quinta-feira, dezembro 21, 2006

uma ode à minha vida :-)



é com agrado enorme que partilho a minha morte. uma morte digna de uma vida cumprida. gostava de ter uma morte linda, daquelas em que sabemos que estamos preparadas para sermos recebidas.

gostaria que a morte me encontrasse exactamente como a vida me transformou. como me sinto. enfim: a morte chega (o inevitável) e eu serei abraçada, saberei surpreendê-la....

quando a morte me abraçar vai ser com ternura, com carinho. pegar-me-á com delicadeza e aninhar-me-á num lugar sereno e idilico... aquele que eu mereço por a ter feito surpreender-se. por não a ter feito perder o seu tempo e aguardado por mim, em vez de ser eu a aguardar por ela...

procurarei um local recatado, pequeno e aconchegante, cujas paredes estejam pintadas de branco... terá que ser perto do mar... será de noite e o meu céu estará esplendoroso... as minhas constelações estarão perfeitas e bem visíveis (sem qualquer névoa que as tolde): todos os astros estarão presentes e imóveis, indeléveis lá no meu céu... senti-los-ei vir até mim, enquanto, serena, vou decorando o meu leito.

estará repleto de flores silvestres, pedras e musgo. não esquecerei a madressilva, a salva e a alfazema... nem o alecrim! as folhas de plátano e os ouriços dos castanheiros. por entre as flores e a folhagem lançadas displicentemente mas com delicadeza, serão encontradas várias camélias brancas. encherei uma banheira imaculada onde verterei água morna retirada de um riacho. raparei o meu cabelo e finalmente despir-me-ei de mim...

deitar-me-ei suavemente nessa água cristalina que me envolve o corpo e amaina a ansiedade e saberei ouvir o marulhar das ondas (sete, ritmadas... depois um espaço de silêncio mais prolongado... e mais sete... sempre numa cadência lânguida), saberei sentir todos os cheiros da vida, e saberei, enfim, deixar escorrer de mim a seiva que me mantém alerta, desperta... com a adaga que terei escolhido, delicadamente guardada (e tantas e tantas vezes retirada da sua caixa e olhada com serenidade), cortarei o último laço e derramarei um trilho que, finalmente, me fará chegar sem dor, sem frio e sem terror... sem arrependimento de ter deixado a morte surpreender-me em vida...

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo :-))

um2 :-))