quinta-feira, maio 03, 2007
Olhando o Mar...
Olhando o mar, sonho sem ter de quê!
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver, quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
Ver claro! Quantos, que fatais erramos
Em ruas ou em estradas ou sob ramos
Temos esta certeza, e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos!
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, estar em festa!
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco, ou não há, o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive!
Quem ontem fui, já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las!
Se te agrada, e tudo é deixar de o haver...
*Fernando Pessoa*
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
e afinal se tudo deixa de haver... porque não a dor também? acredito que um dia ....
lindo poema (só podia) :-))
beijinhos
Becito doce, linda *
Tu sabes como adoro Fernando Pessoa... é um "vicío" e sabe tão bem, voar com as palavras... ;-)
Tudo de bom pra Ti*
Enviar um comentário